Crônica Seu Mochilão

O caminho do meio

Anos atrás, sonhava em viver viajando. A meta da minha vida era ser um nômade digital para poder caminhar em todas as direções com a mochila nas costas. Cheguei a lutar por isso. Quase deu certo porque este blog gerou recursos a ponto de me fazer pensar seriamente em dar um passo adiante. Mas desisti. Felizmente.

Viver de blog não é tarefa das mais fáceis. Para isso acontecer é preciso criar uma série de ações em conjunto, além de depender de empresas e da rara boa fé de terceiros. Também é preciso uma boa dose de tempo, dedicação e criatividade para fazer a engrenagem girar – estes últimos pontos nunca foram fatores impeditivos para mim, já que sempre tive paixão em escrever sobre viagem, além disso, nunca abri mão de fazer acontecer, uma vez que este blog figurou por muitos anos como uma das prioridades da minha vida. 

Quando digo que felizmente não deu certo é porque a minha vida ganhou outros sentidos nos últimos dois anos, paradoxalmente após uma viagem, mais precisamente após o Caminho de Santiago de Compostela. Durante a peregrinação, em 2019, repaginei a minha existência e tirei todas as tranqueiras que estavam no fundo da mochila da minha alma. Confesso que não gostei das coisas que encontrei, afinal de contas algumas verdades são duras de serem vistas e compreendidas.

Buguei por muito tempo. Buguei pra valer. Não encontrei motivação para escrever um texto sequer. Relatei a viagem do Caminho de Santiago em tom de despedida, pois sabia que novos ares estavam chegando, os quais decretei propositalmente durante a minha jornada em Compostela. E assim aconteceu.

Diante um grande mergulho interno, bem como o advento da pandemia, ficou ainda mais claro que eu deveria focar meus esforços em outros projetos, aliás, o principal projeto: a minha vida. Neste processo, comecei a dar mais valor para o meu trabalho com comunicação social, o qual não tenho mais dúvidas que faz parte do meu propósito de vida. Debrucei-me em causas que fazem sentido para mim, e que de alguma maneira contribuem positivamente com o mundo. Com essa mentalidade, novos trabalhos surgiram, junto a isso novas oportunidades. Assim tem sido.

Vivemos de escolhas e cada um escolhe o melhor caminho para si. Também é certo dizer que não existe certo e errado, somente aquilo que ressoa como verdadeiro em cada um – e foi exatamente nisso que refleti e que me fez retirar o véu da irrealidade. Percebi que viver viajando, no meu caso, seria para alimentar o Ego, a vaidade e fugir de maiores responsabilidades. Senti que merecia mais do que carimbos no meu passaporte. Eu carecia, de fato, de uma vida mais equilibrada, produtiva, colaborativa e racional – talvez seja este o famoso caminho do meio que Sidarta Gautama (Buda) falava, o qual não tem nada a ver sobre ficar em cima do muro, muito menos de ter uma vida morna. Tomar as rédeas da vida, mesmo diante de toda a impermanência do mundo, é um processo doloroso e requer coragem. É um caminho solitário, muito diferente do estilo “deixa a vida me levar”.

Nessa salada toda de acontecimentos, pude colocar minha vida nos trilhos e mergulhar um pouco mais na espiritualidade, a qual sempre fez parte da minha vida, mas que por muito tempo deixei de lado diante a cegueira do cotidiano – e nada disso tem a ver com religiosidade, nada mesmo! Diz respeito sobre a gente se enxergar e compreender, mesmo que minimamente, o nosso papel no mundo.

Diante todo o conteúdo dessas linhas, quero dizer que talvez (se um dia a pandemia deixar) eu use este blog para documentar viagens mais alinhadas com o momento da minha vida, principalmente sobre vivências transformadoras e viagens humanizadas, porque só assim terei motivação para sentar, escrever e contribuir positivamente com a experiência de algum leitor. 

Rafael Kosoniscs

Sou jornalista e publicitário, tenho 36 anos e viajo de mochila nas costas há 12 invernos. Tenho a mochilagem e o montanhismo como paixões. Vou publicar meu primeiro livro este ano – e você já está convidado(a) para o lançamento. Fique de olhos nas redes para não perder, ok? Siga: @seumochilao | @rafaelkosoniscs

7 Comentários

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  • Adorei seu texto, a franqueza. a experiência que divide com os leitores.
    Eu sempre penso que o ser humano é adaptável. E graças a Deus eu fui feliz em cada ciclo diferente que participei nos meus 60 e poucos anos. Meu primeiro projeto era ser médica, mas tive que trabalhar cedo e não tive tempo para fazer um curso de tal magnitude. Quando jovem corria atrás das oportunidades. De vendedora acabei me tornando contadora. Garanti assim o salário de sobrevivência e um bom plano de saúde, para mim e minha familia.Me aposentei cedo. Queria conhecer o serviço público, fiz concursos temporários onde atuei por 8 anos na área de assistência social, experiência maravilhosa.
    Hoje pratico o trabalho médico/ enfermagem/cuidadora, em casa, cuidando de uma filha com paralisia cerebral. E sou muito feliz de contribuir para amenizar as dificuldades dela.

  • Gostei muito de sua mensagem, estou iniciando o caminho contrario, daqui há alguns dias me aposento sou enfermeira, funcionaria publica e quero fazer o caminho de Santiago de Compostela, para iniciar esta nova fase em minha vida, os caminhos podem ser juntos , acho que voce contribui muito com suas postagens , não abra mão delas são motivadoras.

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