+ Inspiração

Os mochileiros do passado: uma visão retrô

Para quem já teve a oportunidade de colocar o mochilão nas costas, sabe que a sensação é indescritível. É um sentimento aguçado e independe da quantidade de carimbos que a pessoa tenha no passaporte. Seja a primeira, décima ou centésima viagem, a emoção é sempre enorme e nunca vai deixar de ser significativa para o viajante.

E não importa o lugar, olhares curiosos sempre perseguem o mochileiro. Questionamentos de “para onde vai?” ou “tá vindo de onde”, são corriqueiros. Também não é raro se deparar com perguntas estranhas, como: “você tem onde dormir? … “tá precisando de alguma coisa?”.

Confesso que essas indagações me deixaram confuso/reflexivo num primeiro momento, mas percebi que é o preço que se paga por querer viajar de forma independente e de baixo custo, longe do conforto de uma viagem tradicional. Me recordo da vez que me ofereceram comida na rodoviária de Arica, no Chile. Na ocasião me senti ofendido, mas atualmente até aceitaria para economizar um trocado. Que se laske!

Aposto que praticamente todos os mochileiros já passaram por situação parecida, mas onde será que tudo isso começou? Quem foram os primeiros a sair mundo afora mochilando?

 

Tribos nômades: mochilavam por obrigação

Nem sempre tivemos Google, guias, supermercado e entregador de pizza. A história humana é roots demais, os povos antigos tinham a necessidade de colocar a mochila nas costas para sobreviverem, de buscarem um melhor local de caça, de coleta de frutas e por aí vai. O nomadismo esteve — ou talvez ainda permaneça — em nosso DNA.

Como pioneiros, é obrigação citar os Aborígenes Australianos, Africanos Sul Bosquímanos, Pigmeus e os Aborígenes Americanos, que são exemplos de peregrinação. Esses povos perambularam por milhares de anos, e são sem dúvida, os primeiros mochileiros do passado.

História do Mochilão

 

Os exploradores pioneiros

Aposto que você deve estar pensando: “o que isso tem a ver com mochilão?”. Vamos lá, qual mochileiro não gosta de explorar e ir ao encontro do desconhecido? Os exploradores foram pessoas memoráveis, porque foram os primeiros a arriscarem a vida à procura de um “outro mundo”, de novas terras e de algo extraordinário. Que mochileiro não faz isso? Eles saíram mundo afora sem a certeza de que a terra era redonda! Temos que admitir, eles foram corajosos e abriram caminho para outros exploradores, outros turistas, outros mochileiros.

Às vezes, esquecemos da nossa história, e olha que nem é tão antiga assim. Me pergunto: os grandes navegadores tinham almas de mochileiros, ou nós mochileiros é que temos almas de navegadores? Sei lá, viu!

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Século 17: Início do mochilão por prazer

Demorou, mas aconteceu! A primeira viagem de mochilão sem a necessidade de fugir de guerras, ladrões, animais silvestres, fome e variação climática sucedeu por volta do século 17. Essas primeiras mochiladas ocorreram na Europa, quando filhos da nobreza eram enviados para países vizinhos para estudarem e também para entretenimento. Essas viagens eram conhecidas como o “grand tour”, que duravam meses e até mesmo vários anos, era basicamente uma viagem educacional, para terem contato com artes, culturas e línguas.

Imagem: Reprodução

 

Anos 60 e 70: a era dos Hippies

Falar da história sem citar os hippies é pura injustiça, tudo bem que ainda levamos má fama por causa deles, mas temos que tirar o chapéu para aqueles caras, que largaram tudo para viver uma aventura roots em terras desconhecidas.

Imagem: Reprodução

Nas décadas de 1960 e 1970, os hippies, compostos por europeus, americanos, australianos e neozelandeses, criaram a “Trilha Hippie”, uma rota entre a Europa e Índia. Esse caminho era visto como uma viagem de libertação, recheado de misticismo, aventura e, quase sempre, com o consumo de haxixe. Era uma viagem marcante e de baixo custo, que acabou influenciando milhares de ocidentais a fazerem o mesmo. Sinceramente, vendo esses caras deu até vontade de virar bicho-grilo!

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Travel Guide Book & Across Asia on the Cheap: os livros que impulsionaram a cultura mochileira

Se o universo mochileiro é o que é hoje, se deve muito aos dois livros acima.

O Travel Guide Book foi desenvolvido para os hippies e era focado na “Rota Hippie”. No início, esse guia era um chumaço de papel grampeado, mas em pouco tempo se tornou um genuíno guia, sendo chamado pelos mochileiros de “Bíblia do Oriente”.

Observando todo esse movimento roots, a Lonely Planet, em 1973, lançou o guia para mochileiros focado na Ásia. O guia em questão era chamado de “Across Asia on the Cheap”, esse livro fez história, porque impulsionou o turismo no sudeste asiático.

Nessa época, surgiu o termo “The Banana Pancake Trail”, que era associado aos mochileiros que utilizavam esses guias, já que muitos restaurantes e hostels se adaptaram à cultura ocidental, com a intenção de receber esses mochileiros, que incluía panquecas de banana e outras comidas. Rá! Entendeu?

 

Imagem: Reprodução

Sempre ao estilo mochileiro!

Deu para sentir o espírito dessas épocas? As pessoas saíam de suas casas simplesmente com a vontade de se aventurar, de buscar respostas e de fazer a vida valer a pena. Inspirador, não? … Sem selfies, Facebook e checkin!

Se hoje, somos rotulados de mochileiros, devemos muito aos primeiros viajantes que abriram caminhos, que sofreram os primeiros preconceitos, que tamparam os primeiros buracos e que, com muita peregrinação, mostraram para nós, aprendizes mochileiros, o real caminho da liberdade.

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Foto capa e imagem final: shutterstock.com

Rafael Kosoniscs

Sou jornalista e publicitário, tenho 36 anos e viajo de mochila nas costas há 12 invernos. Tenho a mochilagem e o montanhismo como paixões. Vou publicar meu primeiro livro este ano – e você já está convidado(a) para o lançamento. Fique de olhos nas redes para não perder, ok? Siga: @seumochilao | @rafaelkosoniscs

21 Comentários

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  • Rafael, vou compartilhar o link desse post com um amigão de 62 amos, cujo espírito jovem e aventureiro não desapareceu. Ele vive viajando, entende muito de camping. Vive contando suas experiências na época em que acampar e mochilar não tinha as facilidades que temos hoje.Eles usavam barracas de lona antigamente… imagina o peso? rsrs Obrigada pelo post super bacana!

    • Olá Viviane, tudo bem? Muito obrigado por compartilhar o post e espero que seu amigão se identifique com a postagem. Tempos incríveis, não? Obrigado pela visita. Um abraço.

  • Tem tbm Jack Kerouac e Neal Cassady, os pais dos hippies e da Beat Generation. Já citaram Cassady como o “herói da grande aventura humana” 🙂

    Leiam On The Road

  • Nossa adorei o texto, realmente muito inspirador…Eu admiro muito os povos antigos e todos os mochileiros, um dia quero com certeza mochilar pelo Brasil e pelo mundo a fora…Tenho verdadeira paixão por viajar e tudo relacionado a liberdade, pois sempre acreditei que as escolhas fazem alguém e também sempre acreditei que se a gente viver a vida apenas no lugar onde estamos agora, perderemos muito, perderemos literalmente o tempo pois não conheceremos o que está lá do outro lado e a vida vale a pena quando conhecemos o mundo com os nossos próprios olhos, porque uma coisa é ver por foto ou ouvir alguém falar…outra coisa é se estamos lá.
    Tenho 21 anos costumo dizer que ainda estou cumprido o protocolo…terminando os estudos…e tudo mais..Só que tenho um sonho e quero conhecer o mundo, quero dar essa chance aos meus olhos e a mim mesma.
    Obrigada pelo texto!! 🙂

    • Olá, Jéssica. Tudo bem? Espero muito que você realize seus desejos, sonhos e tudo mais. Estamos nessa vida para aproveitá-la, não é? Espero que realmente consiga colocar em prática toda essa ambição. Eu que agradeço pelo comentário. Um abraço!

    • Olá, Jéssica. Eu tenho o mesmo sonho que você!Uma hora chegarmos lá. Quem sabe não nos cruzamos na estrada da vida, não é mesmo? Obrigado pela visita. Um beijo.

  • Rafael, não tenho o hábito de deixar comentário nas leituras que faço na net, mas parei um pouquinho para parabeniza-lo pelo texto, que além de ser super agradável de ler é deveras pertinente. A história nos resgata da alienação. Assim, através dela, também conseguimos inspiração e coragem para também buscarmos o nosso caminho da liberdade.
    Grande abraço,

  • Que site diferente! Acabei de encontrar ele é uma matéria mais diferente que a outra, estou surpresa. Parabéns pelo site e experiência!

  • Oi, Rafa! Passei o dia inteiro lendo seu blog! Parabéns pelo seu trabalho!! Eu queria saber… Será que é possível encontrar a venda esse Travel Guide Book? Fiquei muito curiosa pra conhecer esse livro… Enfim, parabéns de novo pelo site! Está me ajudando muito!! Beijos!

    • Olá, Luciana. Tudo bem? Primeiramente muitíssimo obrigado pelas palavras. Fico realmente contente que tenha gostado do blog, por essas e outras continuo nessa “missão” hahah… Sobre o livro, tentei achar, mas não tive sucesso. Também gostaria de tê-lo :/ Obrigado mais uma vez. Beijão! 🙂

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